
18/08/2023
Foram dois dias passando por lavouras, algodoeiras e laboratório de classificação da fibra.
Em mais uma parceria entre o movimento Sou de Algodão, Agopa e IGA, estudantes dos cursos de Design de Moda da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e da Universidade Salgado de Oliveira tiveram dois dias de imersão no universo da produção, beneficiamento e classificação de algodão.
O circuito começou nos campos experimentais do Instituto Goiano de Agricultura (IGA), onde os alunos puderam conferir de perto uma plantação de algodão, os trabalhos de pesquisa em manejo integrado, bioinsumos e combate a pragas, também conferiram os laboratórios e as ações de sustentabilidade que o instituto desenvolve em prol da agricultura. A pesquisadora Lais Fontana apresentou um panorama do agro na economia brasileira e as principais linhas de pesquisa do IGA, com foco na redução de produtos químicos e aumento dos biológicos, que contribuem para a regeneração do solo e sustentabilidade. “Pesquisamos como reduzir os impactos ambiental e levar mais produtividade e sustentabilidade aos produtores”, explica.
E a sustentabilidade também foi o foco da palestra do coordenador do Programa Algodão Brasileiro Responsável em Goiás (ABR-GO), Abner Barreto. Destaque para o controle do processo de produção, para o rastreamento de todo o caminho percorrido, da fazenda ao consumidor. “O algodão continua sendo a matéria-prima mais confortável, segura e sustentável da moda. Trata-se de uma fibra natural, produzida por várias mãos, com trabalhadores que têm seus direitos respeitados e um modelo de produção ambientalmente equilibrado”, pontua.
Seguindo o roteiro, os universitários conheceram a unidade de beneficiamento de algodão (UBA), mais conhecida como algodoeira, e puderam ver todo o processo por que passa o algodão logo depois de ser colhido. A unidade visitada foi a Nova Aliança, em Montividiu-GO.
Para a representante do Sou de Algodão, Manami Kawaguchi, todo esse processo tem sua parcela de responsabilidade na busca por uma cadeia produtiva sustentável. “Ao adquirir uma roupa produzida no Brasil, há reflexos na moda, na economia e na sociedade”, diz. Manami confirmou o compromisso de ações semestrais do movimento Sou de Algodão com universidades goianas, como oficinas, painéis, visitas etc.
Próximo passo
O segundo dia da imersão ocorreu na Casa do Algodão, em Goiânia. Esta foi a oportunidade de conhecerem o histórico de produção da fibra no Brasil e em Goiás, além de aspectos pouco comuns que envolvem a pluma, como o cuidado com a umidade, as separações feitas ainda no campo para evitar contaminações, os cuidados que envolvem a prevenção de incêndios, as variáveis de espessura, comprimento e resistência da fibra, entre outros.
A apresentação ficou por conta do gerente do Laboratório da Agopa, Rhudson Assolari, que após a exposição levou as turmas para conhecer o laboratório, seus equipamentos, classificações, processos de segurança e rastreabilidade da pluma. “Todos estes cuidados resultam em um algodão de melhor qualidade, geram confiabilidade ao comprador e melhor preço de mercado”, destaca.
Novos conceitos
Fernanda Mota está no segundo período na Universidade Salgado de Oliveira. A aluna entendeu cada parte do processo e isso foi fundamental para ter mais noção do que veste. “Agora vejo nas roupas o resultado de questões de sustentabilidade e qualidade do algodão, como na qualidade do tingimento, nas ‘bolinhas’ que surgem e na mistura com poliéster. Agora consigo ver o tecido de outra forma”, afirma.
Para o estudante do segundo período da UEG, Yago Vindex, a imersão vai contribuir na hora de escolher e comprar tecidos. “A balança do custo-benefício mudou”, resume. Já para Maria Eduarda Moreira, aluna do quarto período, a escolha da roupa que era feita pelo tato e pelo valor, agora precisa incluir a qualidade e a sustentabilidade.
Samara Soares, outra aluna do quarto período, quer usar esse conhecimento em seus futuros empreendimentos. “quero ver como vou aplicar tudo isso na sociedade”, comenta.
Coordenadora do curso de Design de Moda da UEG, Carla Nascimento lembra que começou a desenvolver essa imersão quando conheceu o movimento Sou de Algodão. “A maioria dos alunos nunca tinha visto uma plantação de algodão, uma algodoeira, muito menos um laboratório. Tem cuidados que a gente nem imaginava, além de muita tecnologia envolvida”, afirma. Para a coordenadora, muito se fala em sustentabilidade e essas ações mostram a prática disso. “Isso vai refletir no curso e na carreira desses alunos”, finaliza.
Por sua vez, a coordenadora do curso da Universidade Salgado de Oliveira, Suely Calafiori, é preciso conhecer por quais processos passou o tecido que será usado nas criações de moda. “A importância da criação passa a ter uma identidade. A roupa passa a contar uma história também”, ressalta.
Diretor executivo da Agopa e do IGA, Dulcimar Pessatto Filho vê a presença de estudantes de moda como um passo fundamental na construção de novos conceitos na cadeia produtiva. “Há um grande salto de valor, financeiro e simbólico, no momento em que o tecido vira uma peça de vestuário. Os futuros designers têm papel fundamental na construção de uma moda mais aliada à qualidade e sustentabilidade”, resume.