
28/06/2023
O Dia do Algodão remonta a 2004, quando produtores discutiam novas estratégias de fomento à produção de algodão em Goiás
Com o tema “Algodão Goiano: uma trajetória de desafios e conquistas”, o 20º Dia do Algodão reuniu os principais agentes do campo para uma série de debates sobre os assuntos mais importantes da cotonicultura. No dia 23 de junho, o encontro contou com um tour técnico por 3 estações, seguido de uma feira com praça de alimentação.
O Painel 1 mostrou o panorama geral das cultivares líderes de mercado e lançamentos, com pontos fortes e de atenção dos atuais materiais e lançamentos. A apresentação ficou a cargo do coordenador de projetos e difusão de tecnologia do IMAmt, Marcio de Souza.
“Abordamos os principais desafios da cotonicultura, os gargalos atuais e os que podem surgir no futuro”, destaca. Para o consultor, os preços da pluma devem cair e os custos se mantêm altos. Por isso, diz, é preciso ganhar eficiência, seja na escolha da cultivar e no manejo da lavoura. “Escolher bem a cultivar é fundamental, mas essa escolha varia conforme a região e seus ambientes produtivos, cada uma com características de solo e clima que interferem na produtividade das cultivares”, avalia.
Na Estação 2, o painel englobou as boas práticas de manejo de solo para sustentabilidade da produção de algodão no cerrado. O conceito de fertilidade integral do solo esteve sob a batuta do pesquisador da Solo e Planta Consultoria Ricardo Andrade. “Trouxe resultados de análise genômica do solo, indicando o que é um solo de qualidade, os indicadores de DNA do solo e por que um solo cultivado de forma sustentável produz mais”, resume.
Por fim, na Estação 3 o debate versou sobre os desafios do manejo de pragas na cultura do algodão, com objetivo de apresentar ferramentas e manejos para uma tomada de decisão mais adequada de controle de pragas da cultura do algodão. A estação esteve sob comando do professor da UFRPE, Jorge Braz Torres, e da pesquisadora da Fundação MT, Lucia Vivan.
Para Jorge Torres, existe uma demanda por novas tecnologias de controle. Ao longo da fenologia da cultura, diz, é preciso saber qual a melhor ferramenta a ser aplicada, sempre pensando que vai ter que conviver com a praga-chave do algodão, que é o bicudo. “Tem que ter eficiência na utilização das tecnologias disponíveis”, frisa.
Lucia Vivan declara que há bons resultados para controle de lagartas, tanto com fungos quanto com vírus. “Também temos resultados promissores para a mosca branca, sobretudo com uso de biológicos. Quanto ao bicudo, há bioinsumos em desenvolvimento, o que pode vir a ser uma outra ferramenta de controle”, adianta.
O 20° Dia do Algodão contou ainda com a Feira Cotton Goiás, com exposições de empresas parceiras, do Programa de Sustentabilidade ABR e dos Laboratórios do IGA, que entretiveram os participantes com o quizz sobre espécies de fungos e bactérias para a agricultura que são avaliados no IGA.
Presidente da Agopa e do IGA, Haroldo Cunha explica que a história do Dia do Algodão remonta a 2004, quando produtores discutiam novas estratégias de fomento à produção de algodão em Goiás. “Na época, o estado já era conhecido por suas terras férteis e clima propício à cultura do algodão, e o Dia do Algodão surgiu como mais um passo na modernização do setor”, recorda.
Diretor executivo da Agopa e do IGA, Dulcimar Pessatto Filho ressaltou que a edição de 2023 teve recorde de participação, com 435 participantes, entre palestrantes, ouvintes e representantes de empresas. “Isso mostra que o Dia do Algodão tem cada vez mais interesse da cadeia produtiva, fruto da qualidade técnica e da relevância que o evento possui no cenário do campo”, avalia.
Agricultura discute o cenário do mercado mundial
A abertura do Dia do Algodão ocorreu na noite do dia 22, em Rio Verde, com a palestra “Perspectivas Globais para o Agronegócio e o Algodão Brasileiro”, com o Coordenador do Centro Agronegócio Global do Insper, Marcos Jank. “Tivemos anos anormais de 2020 a 2022, com pandemia, guerra e questões climáticas. Isso afetou os preços e causou um desarranjo entre a oferta e a demanda de algodão no mundo”, comenta. Jank explica que o mercado perdeu a noção de qual é o preço correto do produto, do insumo, etc, e o que se vê agora é acomodação dos preços.
Para Jank, é hora de fazer as contas e ver o momento de comprar, de vender, de avaliar o mercado, pois não o preço internacional caiu, assim como o preço doméstico com a valorização do real e dos prêmios. “Mas a perspectiva é extraordinária, pois a demanda permanecerá firme, e o Brasil tem feito um bom trabalho de relacionamento com os compradores externos”, avalia.
Ainda conforme o palestrante, o algodão brasileiro tem que se diferenciar em preço competitivo e também no reconhecimento da qualidade do padrão e da sustentabilidade, por isso esse esforço institucional brasileiro é tão importante. Outro foco de atenção é o trabalho da produção, com aumento da produtividade, a integração lavoura-pecuária e o combate a pragas e doenças, por exemplo. “O Brasil tem se mostrado muito resiliente e construído sistemas integrados de produção que funcionam muito bem, o que vai continuar sendo feito pelo produtor”, finaliza.
Setor alinhado
A palestra de Marcos Jank foi ao encontro do que os representantes do agro avaliam. Para o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa), Pedro Leonardo Rezende, a cadeia produtiva do algodão tem sido a grande responsável pelos resultados positivos que a balança comercial de Goiás tem apresentado. Já o coordenador institucional do Ifag/Faeg, Leonardo Machado, acredita que o algodão é uma cultura altamente organizada em sua cadeia produtiva, e quanto mais eventos técnicos, melhor.
Secretário de Agricultura de Rio Verde, Paulo Martins participou do encontro e destacou que há bons exemplos de pesquisas desenvolvidas na região, com tecnologias disponíveis ao produtor de algodão.
Por sua vez, o presidente da Agrodefesa, Ricardo Caixeta, destacou as questões sanitárias que a agência de defesa sanitária e a cotonicultura têm em comum, como a questão do vazio sanitário e do controle do bicudo, com grandes resultados alcançados.
Deputada federal e vice-presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio para o Centro-Oeste, Marussa Boldrin ressaltou que o algodão tem um potencial muito forte a ser explorado. “Como representante pública, posso mostrar a importância do relacionamento com outros mercados para a exportação dos nossos produtos. Muitos países olham para o Brasil de forma positiva, e cabe a nós mostrar a importância do agro brasileiro lá fora”, pontua.